domingo, 27 de janeiro de 2008

Cuidado com as figuras de linguagem

Domingo de manhã, pai e filho estão fazendo um passeio pelo bairro quando o menino avista um muro pichado:

ENTREGUE SEU CORAÇÃO PRA JESUS E SEU PULMÃO PRA SOUZA CRUZ

Intrigado, o garoto pergunta:

— Ô pai, quem é o Souza Cruz?

— É o da empresa de cigarro.

— Mas por que se eu entregar o coração pra Jesus eu tenho que entregar o pulmão pra esse tal de Souza Cruz?

— Não, não. Isso é uma frase sarcástica. O sentido é figurado. É uma ironia... É... Quer dizer, na verdade, é uma brincadeira sem graça de algum baderneiro que não respeita nem a propriedade dos outros nem coisas mais sérias ainda.

— Ah, acho que entendi... Se Jesus é dono do coração e Souza Cruz do pulmão, é uma ironia de baderneiro ficar brincando com essas coisas sérias, pai?

— Nada disso, tudo errado. Nem parece que você é um menino inteligente! Agora, chega de papo furado e aperte esse passo que você está andando muito devagar.

MORAL DA HISTÓRIA: Se for explicar algo para uma criança, cuidado com as figuras de linguagem. Ela poderá empregá-las bem melhor que você.

sábado, 26 de janeiro de 2008

Vida de cão também pode ser boa

Apoiado numa série de observações nos últimos meses, posso afirmar que o comportamento dos cachorros de rua é um grande revelador do espírito e do modo de vida de uma cidade. Não estou de brincadeira! As considerações a seguir se baseiam num profundo interesse despertado em mim por esse setor da sociedade, após um incidente no município de Icém, a 60 km de São José do Rio Preto, na divisa com Minas Gerais.
Ia pela primeira vez de carro à cidadezinha, onde leciono alguns dias da semana, e estava meio atrasado. Ao tomar uma das ruas principais num ponto em que passa em frente à praça da Igreja matriz, eis que vejo atravessar o caminho um baita cachorro, jogando uma pata na frente da outra num movimento que me pareceu uma técnica de andar poupando-se de qualquer esforço mais desgastante. O cachorrão continuou sua travessia, com seu olhar voltado para um ponto distante que não consegui identificar e, então, fui obrigado a reduzir até parar na cola do animal. O infeliz não se deu conta do perigo, nem mesmo percebeu sua inconveniência, porque ainda parou para coçar umas pulgas. Dei com a mão na buzina e o cão a ignorou. Quem percebi ter se importado com o barulho, na verdade, foi um grupo de cidadãos que estavam na porta da padaria ao lado. Me lançaram um olhar que dizia “quem é esse aí atrapalhando o sossego logo cedo?” Embaraçado, esperei o cachorro concluir seu caminho para depois continuar o meu.
Bem, esse foi apenas o primeiro incidente. Algumas semanas depois, fui à padaria numa aula-janela para comprar uns pães de queijo. Quem encontro novamente, dessa vez na calçada? O lazarento do cachorro, acompanhado de um amigo canino. Os dois estavam estendidos na calçada, tomando o sol da manhã, de tal modo que impediam a passagem. Nem pensei em reivindicar o meu direito de passar por ali. Dei a volta pela guia, para retornar à calçada mais a frente. A partir desse dia, comecei a dar relevância aos cachorros que habitam a área central de Icém.
Em primeiro lugar, notei que eles têm um status diferenciado. Recebem mimos dos tiozinhos sentados à porta dos botecos, cumprem uma rotina de visitação a estabelecimentos comerciais, vão e vêm sem ameaça de agressão, recebem ração num lugar fixo, enfim, eles conquistaram grau invejável de cidadania. Tendo em vista a rotina tranqüila e o alimento garantido, todos eles estão em bom peso e alguns chegam a estar obesos. Até assusta o tamanho de alguns!
Atentando-se a Rio Preto, uma cidade de porte médio, vemos que quando se encontra um cão de rua no centro, o que é meio difícil, o indivíduo é sempre esguio, geralmente mirrado, está sempre olhando de um lado a outro, tem um comportamento arisco, esquivo, porque sabe que a qualquer momento pode ter uma surpresa desagradável. Cachorro de rua, pra ser bicho solto em cidade grande, tem que ser malandro, fazer a correria pra ganhar o de cada dia. Muitas vezes fechar uma parceria de proteção e carinho com um morador de rua é essencial. E se vacilar, já era. Se esses cães soubessem a vida boa que seus companheiros têm em Icém...

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Aviso

Em muitas linhas deste blog, ficção e fatos se confundem. Se nem mesmo eu consigo às vezes separá-los, não aconselho ao meu caro e raro leitor o esforço dessa tarefa.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Testando o meio...

Esta é minha primeira incursão neste espaço que talvez seja o mais democrático para compartilhar impressões, idéias, textos engavetados, etc. Sem pretensão alguma, mesmo porque não sei até quando terei paciência ou disciplina para manter o blog atualizado, pretendo postar aqui textos que até então não tinham outro leitor que não fosse eu mesmo, ou um ou outro amigo. Então, aos amigos que se dispuserem a gastar um pouco do seu tempo com minhas banalidades, sejam bem-vindos!